Capacidade “atencional” e psicopedagogia – Por Eliane Calheiros Cansanção

Capacidade “atencional” e Psicopedagogia

As queixas mais freqüentes de pais e professores sobre crianças e jovens nos últimos anos são: “não prestam atenção”, “são inquietos”, “são distraídos” e uma das conseqüências é a queda do rendimento escolar e as mudanças de comportamento.
Percebe-se que o mundo vem passando por mudanças culturais, sociais, econômicas e tecnológicas, as quais vêm refletindo e produzindo novos padrões de comportamento, não significando que os mesmo sejam um problema. É preciso que psicólogos, psicopedagogos, pedagogos, estejam atentos para perguntar, refletir e aprender a lidar melhor com estas mudanças.

As novas tecnologias utilizadas nos meios de comunicação podem levar crianças, jovens e adultos a ficarem inquietos, desatentos e ansiosos por fazerem várias coisas ao mesmo tempo, como atender o celular, abrir e responder e-mails, navegar na internet, jogar games, ver blogs, TV, ler jornais, etc., ocorrendo assim um excesso de informações e uma possível diminuição da produtividade.
Fernández (2006, p. 9) coloca: “é preciso estudar a atenção como uma capacidade, como um trabalho psíquico (inconsciente – pré-consciente – consciente) inerente ao ato de pensar e aprender”. Questionar sobre o que significa atenção e concentração, revisando e construindo novos conceitos.
Com o objetivo de explorar as modalidades atencionais e suas vicissitudes nos contextos atuais. Fernández (1999) vem coordenando um projeto de pesquisa “SPPA – Situação Pessoa Prestando Atenção”, na Escola de Psicopedagogia de Buenos Aires (E.Psi.B.A), e também na internet, sobre ADD/H (site: www.epsiba.com).
Ressalta que são vários os motivos que podem levar crianças e jovens a estarem inquietos, como: uma inteligência ativa, questionadora e a falta de resposta no meio familiar e/ou escolar; ou um chamado inconsciente de atenção em relação a diferentes problemas de ordem psicológica ou psicopedagógica que deveriam ser escutados cuidadosamente, como também responder a patologias orgânicas que requerem alguma medicação como complemento a abordagem terapêutica interdisciplinar.
Cita que “a atenção está próxima à descentração, a dispersão criativa, a reconhecer-se autor, a confiar em suas possibilidades de criar o que já está ali, mais próximo de jogar, que do trabalho alienado (Winnicott)”, sendo a capacidade de atenção uma construção subjetiva (Fernández, 2007, p. 2), própria da época e do contexto que se vive.
Como exemplo temos o modo como as crianças brincam hoje utilizando jogos eletrônicos que não favorecem a criatividade, a invenção e estes podem levar as mesmas a se mostrarem desatentas e hiperativas, sendo necessário uma orientação dos cuidadores para estabelecerem limites.
Para Fernández (2006) a primeira experiência de autoria é o jogar, e é nesta capacidade lúdica que se sustenta a capacidade de atenção. Propõe criar espaços de encontro para realização de um trabalho subjetivo, de escuta, de ressignificação da história do sujeito.
Como é possível observar, é um tema complexo, que necessita de muita pesquisa com diferentes olhares disciplinares e de um trabalho amplo de conscientização, envolvendo família, escola e sociedade. 
Será que estamos atentos e cuidando de nossas crianças como deveríamos?

Eliane Calheiros

Eliane Calheiros Cansação – Psicóloga, Psipedagoga Clinica, Coordenadora do Curso de Pós – Graduação – Psicopedagogia (CESMAC – FECOM).
co-responsável site: www.gesppma.com.br

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