PEDAGOGIA SISTÊMICA Atitudes para pensar, sentir e atuar de uma forma sistêmica – (Amparo Pastor Bustamante)

PEDAGOGIA SISTÊMICA Atitudes para pensar, sentir e atuar de uma forma sistêmica – (Amparo Pastor Bustamante)

PEDAGOGIA SISTÊMICA

Atitudes para pensar, sentir e atuar de uma forma sistêmica Por Amparo Pastor Bustamante (Cuadernos de Pedagogia, Espanha) A autora propõe algumas orientações para aplicar a Teoria das Constelações Familiares no contexto escolar. Convida o educador a se reconciliar com a sua própria história familiar e a estabelecer relações de confiança mútua com as famílias dos aprendizes, às quais vai transmitir a importância do vínculo e da ordem que ocupa cada componente.

Em sentido amplo e considerando a vida como um processo de ensino e aprendizagem, a Pedagogia Sistêmica nos ensina a reconhecer e aceitar a realidade tal como é mostrando-nos como tomar a vida e respeitar a morte, ordenando o amor e restabelecendo a paz para benefício das gerações passadas, presentes e futuras.

Nesse artigo apresentamos algumas atitudes que possibilitam colocar em prática no contexto da escola, partindo basicamente do trabalho desenvolvido por Angélica Olvera, no México e os frutos de sua expansão internacional, especialmente em Espanha. Para Olvera a “Pedagogia Sistêmica é a interrelação do processo de trabalho pessoal dos professores, o trabalho com os aprendizes e a contextualização dentro das Ordens do Amor, em certos conteúdos curriculares a nível educativo junto com a necessária inclusão dos pais, dentro do processo de educação”.

O interessante deste inovador paradigma educativo é que ao aplicar a Teoria das Ordens do Amor e das Constelações Familiares, de Bert Hellinger, demonstram-se os benefícios acadêmicos e emocionais de incluir os pais e apresentam-se ferramentas didáticas que, como os movimentos sistêmicos, possibilitam aos educadores e aprendizes se desenvolver nos planos, pessoal e emocional dentro do contexto escolar.  Sobre o processo de trabalho pessoal do educador.

Na prática da Pedagogia Sistêmica está implícito que os mestres estejam em um processo de desenvolvimento permanente, especialmente no aspecto humano. Assim mesmo, como esta visão sistêmica da pedagogia se inspira basicamente no trabalho fenomenológico transgeracional de Bert Hellinger e antes de educadores fomos aprendizes, e antes de ser  pais, fomos filhos, resulta crucial para este paradigma identificar, ordenar e aceitar as etapas dos processos vitais e honrar a história dos próprios pais, só assim poderemos fazer o mesmo com nossos aprendizes (Pastor 2003), Entre as ferramentas que utilizamos com esta finalidade estão os movimentos sistêmicos, o genograma, a autobiografia pessoal e a autobiografia acadêmica. Entre as atitudes que recomendamos adotar aos

educadores estão as que apresentamos a seguir:

Reconciliar-se com a própria história familiar e acadêmica. E ao fazê-lo incluir no coração as pessoas, etapas e contextos que nos inspiram gratidão e também aqueles excluídos, não reconhecidos e esquecidos do sistema familiar e acadêmico. É importante que o educador se predisponha a conhecer sua história para ordená-la e para curar seus vínculos familiares e acadêmicos desenvolvendo automensagens e imagens interiores que fomentem a paz, só assim poderá impulsionar este trabalho em seu ambiente. Como assinala B. Hellinger, “é mais saudável e mais mágico e ainda que mais difícil realizar algo que fomente a vida em memória dos seres queridos e tomar a própria vida fazendo que também outros participem dela. É mais valiosa a reconciliação” (Hellinger, 2001).

Honrar e tomar as próprias famílias de origem e aos próprios pais Devem-se proporcionar contextos através das atividades e os conteúdos escolares para que os aprendizes e suas famílias também honrem a sua família.

Honrar os pais e a família significa tomá-los e amá-los tal como são. Não há nada mais forte que as famílias a qual estejamos vinculados, a ela e aos seus destinos, de fato são nossa família. Da perspectiva sistêmica, a cura ou liberação das feridas familiares se consegue através da reconciliação e não da recriminação, critica ou por exigência. Tomar da perspectiva sistêmica proposta por Hellinger é algo diferente de aceitar. Aceitar é condescender. Tomar significa “tomo-o tal e como és” Este tomar é humilde, aceita os pais tal e como são. Tomando-os também

me aceito a mim mesmo tal e como sou, É algo profundamente reconciliador, leva à paz e se chega além de toda valoração “nem bem nem mal” (Hellinger e Hovel, 2000 p 123). Aceitar a realidade tal como é adotando um olhar amoroso, inclusivo, flexível e dirigido para frente, para a vida e as futuras gerações.

Mais que pretender mudar a realidade se trata de nos localizarmos adequadamente em nosso lugar, dentro dele, para dispormos de um olhar

amplo e de um amor que possa ver. Um olhar assim não se retém em reprovação nem em lamentações pelo que poderia ser ou o que não é respeito à sua própria história ou a de seus aprendizes. Enfocar o olhar nas soluções mais que nos problemas, adotando uma atitude de humildade e de cooperação, confiando em que o essencial  acontece quando é o seu momento.

Olhar a solução implica assumir a cooperação. Como assinalam Olvera Y Schneider, muito frequentemente o aspecto de solução se vê ocupado por criticas, reprovações e culpas. “Nós culpamos aos pais pelos problemas familiares e eles fartam-se de reprovar nossa tarefa docente. Assim, nem eles como pais, nem nós como professores focamos a solução, tampouco vemos o que a conduta do aprendiz está dizendo.

Isto é o que se faz no trabalho com constelações familiares, ver o conflito do ponto de vista sistêmico de onde a solução principalmente tem que ver, com a aliança que se gera entre os pais e a escola. Assim a visão da pedagogia neste século é uma visão sistêmica. (Olvera y Schneider, 2004 p.12).

Sobre o foco no aprendiz e sua família.

Este paradigma educativo requer um olhar amplo que necessariamente inclua os pais e a família do aprendiz, assumindo a existência da força do vínculo e da solidariedade entre familiares e suas gerações. Assim mesmo, requer que os profissionais, além do trabalho de equipe adotem uma atitude de confiança nos recursos do aluno e de seu sistema familiar para encarar seu destino. Nesse sentido, entre as atitudes recomendadas estão as seguintes:

Ver além dos processos do ensino aprendizagem.

Deixar de olhar os aprendizes como vítimas, respeitar seu destino e olhá-los como pessoas que atuam por amor, e assim também seus pais. Nessa nova orientação a criança não é uma vítima e mesmo em suas ações destrutivas, é uma pessoa que atua por amor. Não se trata de tentar livrar necessariamente os aprendizes de todas suas implicações porque delas também surgem suas forças. Se trata de acompanhá-los respeitosamente.

De outra parte, a prática revela que a criança tem o amor mais forte e onde existe um destino grave, assume a carga do progenitor mais necessitado, integrando através dele os excluídos ou não reconhecidos do sistema, manifestando por exemplo, problemas escolares. Como assinalam Olvera Y Scheneider (2204) em sua conduta problemática se demonstra que tanto a criança como seus pais estão ligados a um destino comum de família e de clã, e a conduta da criança faz ressaltar algo que estava escondido e sem solução.

Quando os professores em frente dos aprendizes assumem que estão frente ao aprendiz e de sua família, se tornam mais humildes em suas aspirações sabendo que “ainda tem mais”, que não só há falhas no processo de ensino aprendizagem, senão que os filhos, junto com seus pais, têm dinâmicas familiares ocultas que influem em seu processo educativo.

Reconhecer e respeitar as famílias dos aprendizes.  Atuar com humildade, a partir do nosso lugar e não nos sentirmos melhores que os pais, ocupando, inconscientemente, seus lugares e acreditando que, enquanto especialistas, sabemos fazer melhor. Frente aos rótulos – hiperatividade, déficit de atenção -, a especialização e o abuso de instrumentos de avaliação que atualmente proliferam na educação, na pedagogia sistêmica apostamos num olhar amplo, humilde e

amoroso.

Nesta linha, Olvera y Schneider (2004) nos convidam a questionar mais que diagnosticar. ”Quando vejo meus aprendizes com sua atenção posta em outra direção que não a escola, me pergunto: pra onde se dirige essa atenção? Do fundo da sua alma, o que é para eles de suma importância se toda criança atua por amor? Para onde se dirige esse amor? Minha experiência com a síndrome de atenção dispersa é que a dispersão pode ser em razão de uma concentração para outro lado. Seria melhor que nos perguntássemos, de quem cuida? Onde está seu amor? As perguntas que podemos fazer como docentes ante as dinâmicas

familiares de nossos aprendizes seriam: até onde devo intervir como professor? Como posso ter uma visão mais ampla do conflito? Até onde a solução dos problemas de aprendizagem está centrada no estilo de aprender? Enquanto professor, como facilito a aprendizagem dos conteúdos? Ou se há algo a mais além de nossa interação com o aprendiz  que, sem ajuda dos pais, não poderíamos resolver para o bem de nossos aprendizes, seus filhos. (Olvera y Schneider, 2004, p 12).

Sobre relações construtivas

Existem atitudes recomendadas para que todos – instituição, educadores e famílias – contribuamos para que as ordens do amor fluam possibilitando que as relações intrassistemas e intersistemas – escola e família- sejam construídas.

Em algumas ocasiões, os esforços dos pais, professores e terapeutas resultam pouco úteis ante algumas crianças que representam um desafio particular para seu ambiente, especialmente quando tentam resolver, por eles unicamente, ou quando só focalizam nos sintomas. Pela pedagogia sistêmica descobrimos que, com freqüência, as causas se encontram ocultas e são o resultado de uma ordem prejudicada do sistema familiar.

Ao revelar-se e restabelecer as ordens do amor se geram soluções que fazem fluir o amor para o bem estar e alivio de todos os componentes da família, repercutindo favoravelmente nos âmbitos escolar e social. Nesse sentido, são atitudes recomendáveis para todos: Recordar-se e recordar, através de atividades e metodologias que propiciem o sentido da vinculação ao qual pertencemos e que não estamos sós. Quando, como professores e famílias ou aprendizes nos sentimos sós no trabalho educativo, isso nos leva a exclusão e à agressão, derivando em que se agrave o medo inerente, já a educação que todos experimentamos quando sabemos do nosso lugar: “Você Pertence, você é um de nós”, nos une, são frases que vinculam, integram, tem um enorme poder

reconciliador.

Em seu livro 2004, Marianne Franke-Gricksch nos brinda com numerosos exemplos práticos nesse sentido. Transmitir às famílias o quanto é necessária sua presença e colaboração.  E também a importância de sua atitude frente à instituição, aos educadores e ao ensino para equilibrar o dar e o tomar entre família, alunos e escola.

Nesse sentido é muito importante que a instituição educativa faça saber às famílias quanto beneficia a seus filhos se, com suas atitudes, se predispõem a: Reconhecer e respeitar a instituição e os docentes tal como são, confiando no seu trabalho; Atuar com humildade e respeito de modo que a família ocupe seu lugar,

sem sentir-se menor que os educadores; Não falar mal da escola a seus filhos, nem de seus educadores; Dignificar o trabalho da instituição educativa e dos educadores criando oportunidades para fazer os filhos verem tudo o que recebem; Assumir que os problemas dos filhos são problemas a resolver em comum, cooperando e não competindo, dignificando e respeitando-se mutuamente, família e instituição educativa. Contribuir para potencializar a ordem dos sistemas aos quais  pertencemos e não contribuir para o caos.

Respeitar a hierarquia e ocupar nosso lugar para que possa fluir o amor. Na família os filhos não devem ocupar o lugar dos pais, devem aceitá-los tal como são e não pretender ser melhores que eles. Os pais devem procurar não fazer crer aos filhos que estes são melhores que eles, pois assim lhes dificulta a necessária tarefa de que os tomem, aceitem, assumam como pais e os honrem tal como são. Assim mesmo, os pais devem observar que os filhos não carreguem responsabilidades emocionais ou funções que não lhes corresponde e que eles mesmos deverão assumir, pois os filhos, dada a forte vinculação que sentem, tenderão a assumi-las por amor. Nesse sentido, os pais podem liberar os seus filhos apelando pelas automensagens ou a frases verbalizadas do tipo: “obrigada por sua intenção, mas isto não te corresponde, é um assunto meu e me ocupo dele, eu mesmo”. Na escola: reconhecer a diversidade e respeitar a hierarquia. É necessário um respeito mútuo entre os professores e os pais. Sobretudo, é importante que os professores não se sintam superiores aos pais e tenham presente que os aprendizes são leais a seus pais. O professor verá o aprendiz como membro de uma família e o sistema familiar como uma unidade ou totalidade. À sua vez, há de contribuir que a equipe diretiva da escola possa ocupar seu lugar não mostrando credibilidade ou poder com atitudes críticas ou comentários negativos a outros membros da comunidade educativa; e o mesmo, a equipe diretiva com respeito ao pessoal docente e não docente que trabalha na escola. Por outra parte, ao entrar na escola e em uma sala de aula, o educador toma parte, quer queira ou não, desses sistemas e tem de ocupar o lugar que lhe

corresponde, cumprindo com sua responsabilidade e assumindo a autoridade que lhe confere seu papel. Se o faz ou não, ficará refletido na esteira de impressão que sua presença deixa em todos os membros dos sistemas implicados: aprendizes, suas famílias, escola e sociedade.

Dentro da equipe de professores: se considera a antiguidade na escola, quem chegou primeiro, assegurando-lhe seu lugar e hora de sua fala nas reuniões. Dentro da aula: o professor deve respeitar os professores que passaram antes e colaborará para que o aprendiz mostre respeito ao professor anterior. Deve-se considerar as diferentes idades dos aprendizes ao situá-los em um espaço: os maiores atrás e os menores à frente. Os menores respeitarão os maiores. Como assinala Tem Herkel (2004) “cada criança necessita de um bom lugar na classe, e convém ter presente que as crianças marginais ocupem um bom lugar em sala de aula. Asseguremo- nos de que não se produz favoritismo e de que ninguém se torne a Ovelha negra da classe, por ex. tomando a si dividas de outros do grupo.” Finalmente, assinalar, como aponta Hellinger (2001 b) que o amor cresce

e floresce dentro de uma ordem que dá a cada membro do sistema familiar (família e ou escola) um lugar de dignidade e respeito. O esquecimento, a exclusão ou a falta de reconhecimento de qualquer pessoa pertencente a esse sistema são causa de infelicidade e desdita. Ao respeitar a hierarquia e cada membro ocupando seu lugar, o amor poderá fluir. Nesse sentido, as ordens fundamentais em educação são: que os professores e os pais são grandes e os aprendizes e os filhos são pequenos, e que os professores e os pais dão e os aprendizes e os filhos, recebem. 

(Traduzido do espanhol, da revista Cuadernos de Pedagogia, n. 360, set/2006, transcrito por Maria Abadia Silva, Instituto Brasileiro de Soluções Sistêmicas)

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