El por qué, para qué y cómo de la insistencia de la pregunta: ¿Qué es la Psicopedagogía? -(Alicia Fernández)

O PORQUÊ, PARA QUÊ E COMO, DA INSISTÊNCIA DA PERGUNTA: “O QUE É

PSICOPEDAGOGIA”.[i]

Alicia Fernández

[i] “El porqué, para qué y cómo de La insistência de La pregunta: “Que es La psicopedagogía?”, texto de Alicia Fernández, publicado na Revista E.PSI.B.A., n° 0; traduzido por Manuela Barbosa; Revisado por Humberto Gomes de Freitas.

Tentarei pensar no por que da insistência da pergunta sobre o que é a psicopedagogia, se tem direito a existir ou não, o que faz, por que, como, quando… Pergunta que recorre ao quefazer psicopedagógico.

Em todo o grupo de estudo, supervisão ou espaço de trabalho com psicopedagogos, sempre chega um momento onde os participantes colocam a angústia, o temor, o rechaço, a dúvida, e o cansaço diante dessa pergunta. Às vezes, com um tom de queixa fazem quem a formulam, como se os demais profissionais (psicólogos, professores e até os pais), fossem quem deveriam conhecer o que é a psicopedagogia. Outras vezes, com desqualificação sobre si mesmos, como se não correspondesse a um psicopedagogo com experiência, continuar perguntando-se sobre o que é a psicopedagogia.

Proponho que no lugar de erradicar a pergunta, desqualificá-la como indicadora de imaturidade,ou mantê-la congelada, a “façamos trabalhar”: a usemos em um espaço transicional, lúdico, de

criatividade que nos permita questionar e questionar-nos.

Não abordarei nesse momento, a pertinência do termo psicopedagogia, nem a situação histórico social que deu lugar a emergência da psicopedagogia como uma formação acadêmica de graduação. Questões que são importantes e fazem também essa pergunta, porém a trabalharemos em outro momento.

Gostaria hoje comentar com vocês, porque eu creio, que é uma pergunta que se faz necessária e central à própria construção da teoria e da prática psicopedagógica.

Em, primeiro lugar, porque a psicopedagogia trata sobre o aprender e o aprender implica o perguntar e o perguntar-se. Só é possível aprender abrindo um espaço AO PERGUNTAR, que não é outra coisa que articular três instâncias: desconhecimento, conhecimento e desejo de conhecer.

Parece-me então, necessário e saudável, que a psicopedagogia, mais que qualquer outradisciplina se abra ao perguntar, também para perguntar-se sobre si mesma. Construindo assim seu próprio aprender, para o qual deve por em jogo: a função positiva da ignorância, os conhecimentos adquiridos e o desejo de continuar crescendo.

Ser mulher…

Por outro lado, creio que podemos fazer uma analogia entre a insistência da pergunta o que é a psicopedagogia para qualquer psicopedagoga atual, e a insistência da pergunta o que é SER MULHER, para toda mulher. Analogia que só, proponho, para pensar as distintas formas de situar-se ante essa pergunta.

As mulheres, também estamos atravessadas pela insistência da pergunta o que é ser mulher.  Acontece que a partir de algumas posturas se interpreta a emergência dessa pergunta, como típica da histeria, correndo-se assim, o risco (no trabalho terapêutico com uma mulher) de derivar a energia questionante contida no gérmen da pergunta, para a acomodação, repetição e o submeter-se a modelos miticamente determinados.

Penso que a solução não é anular a pergunta, visto que o problema não está em perguntar-se, e sim a quem se dirige a pergunta (a outros, ao Outro, a si mesma) e para quê se formula. Ao contrário, é uma pergunta necessária para toda mulher, numa sociedade onde os provedores significantes que lhe provêem acerca do que é ser mulher implicam dualidades excludentes: mulher sexuada ou “santa” mãe; profissional ou dona de casa; pensante ou desejável; masculinizada ou passiva… E o encontro de outras alternativas que nos liberem dessas dicotomias, parecesse estar sempre ligado ao sofrimento.

Então a pergunta se faz necessária e é indicadora de saúde, sempre e quando não fica encapsulada, como na histeria, rebatendo sobre si mesma em um ping-pong infrutífero. Deve surgir e trabalhar com uma pergunta desencadeadora, ressignificando a diferença e construindo significados e significantes para que o ser mulher, que sejam diferentes aos propostos pelos mitos que ainda hoje nos  atravessam. Desta maneira poderão surgir múltiplas respostas, que construam diferenças masculino – feminino, significando a diferença de gênero sexual como distinção e não como deficiência.

Ser psicopedagoga…

Seguindo com a analogia que propus, creio que também pode-se lhe dar um caráter positivo à insistência da pergunta o que é a psicopedagogia. Em contrapartida, se congelamos a pergunta isto nos levará ao cerceamento da nossa produtividade. Proponho colocá-la a trabalhar como ferramenta para construir desde nossa própria prática, olhares, posturas, teorias e dispositivos específicos. Existe uma prática e uma disciplina chamada Psicopedagogia, em resposta a uma demanda cada vez mais premente em relação ao fracasso escolar e a problemática de aprendizagem. Herdamos

um nome: Psicopedagogia, uma história… porém há diversas formas de posicionar-se diante de uma herança. Não há somente duas opções diante das heranças. Rejeitá-las ou mantê-las e repeti-las.

Herdar também pode ser, como creio que disse Castoriadis, poder usar a herança recebida da forma e para o que nós pensamos e cremos ser adequado. Quero fazer aqui, uma pequena contribuição, pondo a trabalhar essa pergunta: o que é a psicopedagogia, sem fechar numa resposta, porém, contextualizando-a no que, para mim, é o objeto de toda intervenção psicopedagógica: ABRIR ESPAÇOS SUBJETIVOS E OBJETIVOS, ONDE A AUTORIA DE PENSAMENTO SEJA POSSÍVEL, é dizer onde pode surgir o sujeito aprendente.

Ser aprendente…

Aprendente que se situa na articulação da Informação, o Conhecimento e o  Saber.

Aprendente que se constitui na dialética entre constituir-se como sujeito no campo do desejo do Outro e ser autor autônomo de sua própria história.  

Entre o sujeito do desejo do Outro e ser autor de sua própria história. 

Entre a responsabilidade que o conhecer exige e a energia desejante que surge

do desconhecer insistente.

Entre a certeza e a dúvida.

Entre o jogar / brincar e o trabalhar.

Descobrir-se diferente…

Descobrir a incompletude…

Descobrir-se sujeito…

Aprendente que em sua mais tenra infância faz uma descoberta, que tem que ir atualizando cada dia, mesmo adulto, para poder continuar aprendendo. Esta descoberta que feriu sua onipotência foi e é: que o que ele pensa se não o disse, o outro não o pode adivinhar, e como consequêcia a isto também, descobre que os outros, seus ensinantes (pais, professores, poderosos em geral) podem esconder o que pensam, ou pensar uma coisa e dizer outra. Tal descoberta supõe a permissão para ser diferente e abriu um espaço para sair da dependência (na criança ante seus pais e no aprendente ante seus ensinantes).

O psicanalista argentino Luis Hornstein disse, que “quando a criança descobre que é uma ilusão atribui ao olhar parental o poder de definir seus pensamentos dá um passo tão fundamental como o da descoberta da diferença dos sexos”.

Descoberta da diferença dos sexos: feito marcante para a existência do sujeito desejante. Descoberta da diferença entre pensar e dizer: feito marcante para a existência do sujeito cognoscente.

O posicionamento ante as duas diferenças enunciadas: marcará a existência do sujeito aprendente. Ao descobrir a diferença entre pensar e falar, a liberdade, a potência, e a dor, ficaram associados ao ato de pensar.

O pensar, o aprender, ligando-nos e desligando-nos simultaneamente. Ligando-nos ao Outro, à Cultura, à Ciência, já que os outros, a Sociedade, a Escola devem favorecê-la, como ensinarem, e também desligando-nos, já que só e à medida que reconstruamos e modifiquemos, o ensino – informação, impondo-lhe a marca de nosso saber e conhecimentos anteriores, poderemos aprender.

Sujeito Aprendente, que articula ao sujeito desejante, com o sujeito cognoscente, fazendo-se corpo, em um organismo individual e fazendo-se corpo-instituinte em um organismo – sistema social instituído.[1]

A psicopedagogia se dirige ao sujeito aprendente, assim como a psicanálise ao sujeito desejante e a epistemologia genética ao sujeito cognoscente.

Quem é este sujeito aprendente, como se constitui?…

Penso o sujeito aprendente com aquela articulação que sobre o organismo herdado vão armando o sujeito cognoscente e o sujeito desejante, construindo um corpo, sempre em interação com um Outro (Conhecimento – Cultura…) e com outros (pais, professores, meios de comunicação). 

Um pouco de história…

Gostaria de fazer um pouco de história em relação a como surge a chamada Psicopedagogia. O campo do “fracasso na aprendizagem” se oferece a Psicopedagogia, a partir de outros “fracassos”. “Fracassos” da pedagogia, da neurologia e da psicanálise. A psicopedagogia, se originou como uma prática que tentava intervir resolvendo as situações individuais de crianças e adolescentes que fracassavam em aprender. Crianças que sendo sãs e inteligentes, entretanto não aprendiam. Este ponto de partida de início se aproximou mais à neurologia que à pedagogia. Usou terminações como “diagnóstico”, “tratamento”, “paciente”, porém o mais grave foi tentar corrigir ou “reeducar” aquele que vinha supostamente diagnosticado pela medicina e marcado expulsivamente como problema de aprendizagem pelo sistema escolar. Essas crianças são enviadas a ”reeducação psicopedagógica” (que não é psicopedagogia) e rapidamente se cobre o conflito. E a reeducação psicopedagógica chega a tapar as perguntas, que aquela criança que ao aprender a calcular, agora transforma em “uma” “discalculia”, o que aquela outra criança que não aprender a escrever – agora coisificado como “um” “disléxico” –, estavam com transtornos, enunciando.

Os pais e professores podem dizer: “meu filho é muito inquieto” ou “meu aluno não aprende a ler e a escrever” ou “não se entende o que escreve”, frases que se não dão conta das causas, nelas aparece um sujeito de quem se fala e algo que se diz desse sujeito.

Se o especialista psicopedagogo, tomando uma nomenclatura de outra disciplina, adjudica àquelas situações os nomes dislexias, disritmias, hipercinesias, não está fazendo outra coisa mais que dizer em um idioma antigo, o mesmo que diziam os pais e os professores. Só que essa nomenclatura agora terá o efeito de evitar a ele mesmo e a sua disciplina, pensar no sujeito aprendente e no contexto ensinante. Quando a “reeducação psicopedagógica” se incorporou à escola, o único que fez foi trasladar o consultório, à escola (com o modelo médico – hegemônico em declive) legalizando assim o sistema expulsivo favorecido pela pedagogia tradicional. A pedagogia fracassa ao ensinar, o aluno sintomatiza isso, em sua repetição ou deserção e a “reeducação psicopedagógica”, apelando à “Medicina oficial”, diagnostica aquilo como “problema de aprendizagem” do aluno. Manda o aluno ao médico que o medica (laboratórios contentes e governantes tranquilos) e leva a criança ao “gabinete” da escola, ou ao consultório particular. Sobre esta situação a reeducação intervém usando técnicas que obturam com

“movimentos”, a emergência do “gesto” que calam com “sons”, a autoria das palavras e os pensamentos.

Ou seja, volta o fracasso, dos que fracassam com os que fracassam em aprender.

No entanto, também , esta situação ocorre, a partir de um “fracasso”, neste caso por omissão: da psicanálise, ao deixar na prática o espaço de aprender fora de sua intervenção; e a construção teórica,

excluindo da análise da constituição do sujeito desejante, a participação do sujeito pensante. Validando o fato, aquela dicotomia para uns e por outro lado os “problemas de aprendizagem” e para

outros e por outro lado os “problemas de conduta”.

Mesmo superando o condutismo essa dualidade se filtra, já não serão problemas de conduta, mas “emocionais” ou “afetivos” por um lado e de aprendizagem por outro.A reeducação psicopedagógica se instalou, então, sem entrar em conflito, nem com a pedagogia tradicional, nem com aquela neurologia adita ao modelo monopólico do organismo, nem com aquela psicanálise.

A reeducação psicopedagógica se dedica a colocar próteses intelectuais, onde há inteligência aprisionada ou inibida, mantendo nos feitos a exclusão do aluno, sem intervir nem denunciar os movimentos expulsivos que desde os sistemas educativos promovem o fracasso escolar. E chamando-o problema de aprendizagem, faz algo similar a quem chama-se e trata-se como anoréxico a um desnutrido.

Porém, nos anos setenta começa (e creio não casualmente desde a instituição hospitalar e com o trabalho interdisciplinar) uma Psicopedagogia chamada “Clínica”. E não quero deixar de mencionar a figura de Blanca Tarmopolsky que foi quem cunhou essa expressão

psicopedagogia clínica. (Blanca foi assassinada nos anos em que silêncio era saúde e o pensar estava mordaçado). Blanca insere um movimento de trabalho interdisciplinar, abre um caminho para pensar o aprender e o “não–aprender” de outro lugar. Sara Paín, um pouco antes já havia começado um  trabalho de construção teórica. Blanca e Sara são duas pioneiras, marcando um rito para um nova postura em psicopedagogia clínica.

Então, como pode situar-se a psicopedagogia na interdisciplinaridade? Usando os conhecimentos da medicina, pedagogia, psicanálise e outras disciplinas como ferramentas para a construção de um olhar particular e específico próprio da psicopedagogia. Fazer um traslado mecânico dos conceitos, não é aprender, senão desvirtuá-los. Assim por exemplo, quando apsicopedagogia fica fascinada com a psicanálise, se transforma em uma “psicanálise de menor categoria” ou menos perigosa. Do mesmo modo em relação a Pedagogia – disciplina que nos últimos tempos está realizando importantes mudanças na mão da psicologia genética – a psicopedagogia pode tentar substituí-la, repeti-la e até “ajudá-las” a esconder seus fracassos, ou entrar em uma sã relação recíproca de aprendente – ensinante. Assim a instituição escola necessita imprescindivelmente da pedagogia, porém cada vez mais a aprendizagem se complexifica de tal modo, que não basta só a intervenção dessa disciplina. A psicopedagogia clínica, pode contribuir muito e por sua vez aprender da pedagogia construtivista. Do mesmo modo pode aprender da teoria e da prática psicanalítica, e por sua vez aportar elementos que tenham haver com a autoria de pensamento.

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